Por Diogo Simões
Gosto particularmente de A Seta e o Alvo de Paulinho Moska e Nilo Romeno.
A Seta é Existencialismo puro e de uma subjetividade deliciosa, instigante. Faz pensar.
Como um bom livro, tenho vontade comer a canção.
Roberto Carlos, ainda nos indos de sua carreira musical, recebeu duras críticas quanto à ausência de (boa) poesia e metáforas inteligentes em suas letras. Foi Nara Leão - já famosa e dita erudita - dos primeiros nomes a defender a beleza óbvia das canções de Roberto. (Esse, mais tarde, demonstraria (penso eu) grande capacidade metafórica e poética em, por exemplo, Debaixo dos Caracóis dos seus cabelos, homenagem a Caetano Veloso, exilado em Londres).
A seta e o Alvo pode parecer óbvia e pouco inventiva; hermética e quase chata. Mas Sartre orgulhar-se-ia do conteúdo, posso apostar.
A canção fala de uma dicotomia muito atual – penso eterna - e da inata relação de negação do profundo e do raso, do eu e super-eu, do pensante e do estúpido.
A primeira pessoa (o eu) dita - entre outras cosas - corajosa, otimista, questionadora e hedonista – que fala "de amor à vida", "da força do acaso", do olhar "para o infinito" -, que experimenta e existe, nega a covardia, o negativismo, a inércia e a obviedade (detesto) da segunda (você) – que "anda em linha reta" e "de óculos escuros", esperando a "seta no alvo".
E Moska/Romeno ilustram (por metáforas muito Concretas) com imensa propriedade essa luta de estados. Gosto muito do estilo: falam, aparentemente, rasos com profundidade, mas sem rapapés. É papo-cabeça pop, capital, em doses homeopáticas.
Eu grito por liberdade
Você deixa a porta se fechar
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar
Sinto (vejo) a mesma idéia Tropicalista dos Baianos ou do Rock'n'Roll do Leblon de Cazuza nesses versos de A Seta.
Não seja, talvez, tão sonoramente agradável (ou musicalmente boa) como Alegria, Alegria ou Ideologia (fantástica), mas, ali, tem algo de muito bom. Poético. Cru.
Vocês podem assistir o clipe aqui.
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